Quando uma pessoa tem um comportamento nocivo, seja para ela mesma, seja para outras pessoas, muitas vezes observamos que esse comportamento está sendo dirigido por uma identificação com alguém do seu sistema, e isso tem a ver com o que Bert Hellinger chamou de “boa consciência”.
Por exemplo, uma pessoa que se envolve com crimes, e tem histórico de pessoas na família que se envolveram com crimes. Muitas vezes, é justamente aquilo que a pessoa rejeita, que ela mesma não quer, e então a boa consciência age para unir aquilo que foi excluído.
Se alguém na sua família cometeu um crime grave e foi excluído da família, foi julgado, os filhos sofreram, aí o filho é criado ouvindo assim: “não seja como o seu tio, que fez isso” ou “não seja como o seu pai, que fez isso”. O assunto é um tabu, é algo pesado, difícil de lidar...
Porém, esse filho se identifica não só com o grupo como um todo, mas também com o excluído. Ele quer, em nome da coesão e da sobrevivência do grupo, pela boa consciência, chamar de volta aquele que foi excluído, porque sabe, inconscientemente, que uma exclusão enfraquece o grupo.
Alguém que é excluído gera um vazio, um transtorno no grupo. Então, inconscientemente, a pessoa quer mostrar que aquela pessoa pertence. Ela tem que pertencer, ela faz parte da vida dessa família, ela teve filhos, ela precisa ser honrada. E, em homenagem a essa pessoa, esse filho repete o mesmo padrão, e se envolve em criminalidade, e também se torna violento.
Essa dinâmica acontece muito com quadrilhas: em uma comunidade muito violenta, muitas pessoas têm envolvimento com o crime, com o tráfico. O pai já foi preso, o tio foi assassinado pela polícia, um dos irmãos foi assassinado, o outro irmão está preso. Então há um jovem que se envolve com a quadrilha. E ele não quer nem saber se alguém irá aconselhá-lo, dizendo “não faça isso, que é errado”.
Em sua consciência, isso não importa. A moral não tem nada a ver com essa história, no sentido de o que guiará sua consciência. Porque ele quer pertencer, e seguirá a sua boa consciência. Então começará a praticar pequenos roubos, se envolverá com a criminalidade, e no dia em que ele for preso, ouvirá da família e da comunidade “seu vacilão, você foi preso”... só que ele irá se sentir bem, porque todos foram presos. Então agora é a vez dele se sentir bem, mesmo se dando mal.
Acontece também com doenças, ou com pobreza: a pessoa, tendo dificuldades financeiras, ou adoecendo, se sente conectada… “pôxa, estou no mesmo barco que os meus pais, que a minha família, que a minha comunidade”.
Em situações de violência doméstica isso também é comum: por exemplo, uma menina que sabe que sua mãe viveu em um ambiente de violência doméstica. A mãe, depois de apanhar, depois de muito tempo, conseguiu se separar, e criou a filha. Essa filha tende, em homenagem a seu pai, pela boa consciência que a vincula ao seu pai, a também encontrar um homem agressivo. E por ela ter julgado a mãe, achando que a mãe era frágil, que a mãe era fraca, dizendo “como é que pode a mãe se envolver nisso?”, a própria filha também tende a se envolver na mesma situação.
(Trecho extraído do seminário online A boa e a má consciência, com Sami Storch.)