Para libertar-se, para seguir em frente, para abrir-se para o novo, é preciso coragem. É preciso que a pessoa queira mesmo, porque são escolhas. Chega um momento em que a pessoa escolhe. E muitas pessoas abrem mão da cura, abrem mão da paz, em nome do orgulho, ou por uma fragilidade emocional - e não tem como forçar isso.
Como diz Bert Hellinger, profissionais da ajuda, pessoas que querem ajudar outras pessoas, é importante que reconheçam seu limite. Não podemos salvar outra pessoa. Se sentimos a necessidade de salvar outra pessoa, talvez estejamos ansiosos para carregar algo que não é nosso. Uma pessoa que carrega algo que não é seu, não carrega tão bem aquilo que é seu. Ela paga de alguma forma.
A dinâmica mais comum disso é em relação à mãe. O filho que quer salvar a mãe, quer concordar com a mãe, se preocupa com a mãe. Ele toma, no seu próprio ombro, algo do qual nunca contará. Mas isso se reflete na vida. Ele quer ser um Salvador. Ele fica com dó das pessoas. Ele quer ficar ajudando, quer fazer as coisas pelos outros. E não dá para fazer isso.
Às vezes, a melhor ajuda possível é estar presente, é olhar. Às vezes podemos estender a mão, e aí a pessoa precisa segurar a mão e se levantar. Mas sempre existe um limite. Sempre há um movimento que a própria pessoa tem que fazer. E às vezes é preciso chegar a uma situação extrema, para que ela sinta a motivação para mudar. É como diz o ditado, "a água bater na bunda", para uma pessoa aprender a nadar.
Muitas vezes ela não faz um movimento, e não é uma necessidade extrema. E é preciso ter isso em mente. Se uma pessoa não estiver qualificada, não adiantaremos fazer isso por ela.
Isso entra nas Ordens da Ajuda, que é um dos temas que tratamos nos cursos de constelações e de Direito Sistêmico. É um tema fundamental para quem trabalha com isso. Mas na vida, também, todo mundo usa: quem é pai, quem é mãe, quem gosta de ajudar as pessoas, ou às vezes sente necessidade de ajudar as pessoas. Então nós precisamos conhecer as Ordens da Ajuda. Isso também é uma ciência.
O Bert Hellinger descobriu coisas maravilhosas. Por exemplo, como, às vezes, virar as costas para uma pessoa pode ajudá-la. Às vezes uma pessoa fica acomodada em uma situação, porque está olhando para ela, porque ela está chamando atenção.
Uma pessoa que se coloca no lugar de vítima, por exemplo. Ela tem vantagens com isso. Porém, ela não sai do lugar, ela não irá progredir. Ela pode prejudicar outras pessoas, pode cobrar outras pessoas, pode acusar outras pessoas, só que é um lugar cômodo, em que ela não assume a própria responsabilidade. Isso chega a ser um limite na eficácia das constelações. Às vezes uma pessoa chega dizendo "eu fiz constelação, não sei o que mais, e não deu certo… eu fiz não sei o que e não deu certo", fica reclamando, aí eu logo desconfio, e acho que essa pessoa é uma vítima. Nem sempre é assim. Mas com vítimas a constelação não funciona.
O próprio Bert Hellinger fazia assim: a pessoa sentava do seu lado, e, se tinha uma postura de vítima, que só reclamava, só botava a culpa nos outros, ele não forçava, não falava "vou te ajudar" ou "olha, tome sua própria responsabilidade". Ele falou "não vou trabalhar com você, pode sentar". Às vezes ele até pegava mais pesado, e dizia "Você é perigoso!", e não trabalhava com ela. Por quê? Quem seria o próximo a ser acusado por ela? Seria ele. Qualquer pessoa que tentar ajudar será acusada. Porque ela não quer ser ajudada. Ela quer ser vítima. É uma situação delicada.
E às vezes deixar a pessoa é o que é preciso. Se a pessoa estiver no chão, chorando, dizendo "E agora, o que é que eu faço? Como a vida é cruel! Como ninguém me ajuda! Como sou coitado!" Às vezes, se as pessoas virarem as costas e forem cada uma cuidar da sua vida, de repente ela olha em volta, vê que ninguém está prestando atenção nela, e diz "Não está dando resultado. Vou ter que levantar sozinho, por mim mesmo." Então ela pega e se levanta.
Por isso a constelação é tão bonita. Vemos isso apostando de uma forma muito nítida. Eu me lembro de uma constelação que foi exatamente isso. Eu representava o pai que queria salvar o filho. E o filho lá no chão. Então uma hora o constelador disse "isso, agora você solta ele, deixa ele aí". De repente o cara olhou em volta, pegou e clamou. Essa foi a ajuda. É uma ciência muito fina. Isso é uma das coisas mais bonitas na constelação, e de mais importância para quem trabalha com o Direito Sistêmico.
( Trecho de uma aula com Sami Storch )