"Otimismo é esperar pelo melhor. Confiança é saber lidar com o pior." Roberto Simonsen

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Conflitos em torno de inventário?

 Imagine uma pessoa que teve um relacionamento, e dentro desse relacionamento teve filhos.

Depois teve outro relacionamento, no qual teve outros filhos.

Os filhos do segundo relacionamento não estão em situação de igualdade com os do primeiro relacionamento.

Eles se beneficiaram das dificuldades, das dores e das tragédias da primeira família.

Isso não significa que eles têm culpa. Significa, simplesmente, que colheram benefícios do término do relacionamento anterior.

Digamos que um homem tenha se separado da primeira mulher, deixando filhos, saindo de casa, constituindo uma nova família, e convivendo com os filhos desta nova família.

Os filhos da nova família conviveram com o pai, que ficou ausente para os filhos do primeiro relacionamento.

Eles só tiveram esse pai presente, só puderam conviver com uma família estruturada, porque seu pai separou-se da primeira mulher. Os filhos do primeiro relacionamento, por sua vez, tiveram que crescer sem o pai dentro de casa.

Houve um preço. Alguém pagou um preço alto para que os filhos do segundo relacionamento tivessem uma família mais bem estruturada.

Mais ainda: para que pudessem viver. Afinal, eles só existem graças ao término do primeiro relacionamento, e às dificuldades que essa mulher e esses filhos passaram.

Se os filhos do segundo relacionamento consideram-se iguais, ou até melhores, do que os do primeiro relacionamento, isso provavelmente ocasionará problemas no momento do inventário.

Por que?

Porque não há um reconhecimento de cada um em seu lugar. Quem veio depois está querendo ser maior do que quem veio primeiro.

Mas a verdade é que quem veio depois não tem nem ideia da dor que os irmãos, filhos do relacionamento anterior do pai, passaram.

De maneira geral, os mais novos nunca saberão o tamanho da dor que os mais velhos enfrentaram ou ainda enfrentam. Quem veio depois não sabe o que aconteceu primeiro. Os filhos não têm noção do que aconteceu entre os pais; não conhecem todos os segredos, todas as nuances, tudo aquilo que ficou oculto.

No entanto, muitas vezes, os filhos do segundo relacionamento sentem-se mais merecedores, porque, por exemplo, ajudavam o pai no trabalho, e por isso consideram-se mais importantes.

Mas todas as oportunidades que tiveram em suas vidas, incluindo a de nascer, foram graças ao fato de o pai ter se separado da primeira família.

Segundo a lei da hierarquia, observada por Bert Hellinger, os filhos do primeiro relacionamento, que vieram primeiro, são maiores, já que suportaram uma dor maior do que a dos mais novos.

E o reconhecimento disso, pelos irmãos mais novos, é um movimento que coloca as coisas em ordem, que traz paz para todo o sistema familiar.


(Texto extraído do curso online Direito Sistêmico e as Constelações Familiares na resolução de conflitos)

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

O caminho necessário para se ir além

 Para superar um padrão de comportamento prejudicial, para dar um passo adiante, progredir na vida, não existe uma solução mágica: o caminho é sentir culpa. O sentimento de culpa faz parte da solução.


Em muitos casos, a solução para se desvencilhar de um padrão é seguir pelo caminho da má consciência, e arcar com as consequências disso. O sentimento de culpa não deixará de acontecer. Ele é um fenômeno, ele acontece, não é uma escolha.


A pessoa irá sentir-se se distanciando de algo que para ela é importante, porque é a sua origem, é o seu grupo. E não é fácil, porque o chamado para voltar a se conectar, para se sentir pertencente, é muito forte.


Em casos de viciados, por exemplo, isso é muito forte. A Virgínia Satir já dizia como nós devemos ter muita paciência com as recaídas. Só que ela não dava essa explicação que o Bert Hellinger dá, do porquê as pessoas estão sujeitas a recaídas em caso de vício.


Não só com drogas. De relacionamento também. De padrões em geral, de a pessoa retornar a um padrão antigo. Porque a boa consciência é muito forte. É um instinto de sobrevivência.


Já facilitei constelações em que a pessoa tinha uma dificuldade financeira, e então coloquei uma fileira de antepassados, e todos apresentaram o mesmo padrão. Gerações e gerações de pessoas com dificuldade financeira. Então coloquei um novo representante, um pouquinho mais distante, e disse “Olha, está aqui a riqueza. Você quer ir para a riqueza? Experimente, vá para a riqueza.”


A pessoa então se posicionou ali, junto da riqueza. “Agora sinta a força da riqueza. Você quer ficar aqui?” Na hora ela se sentiu mal, preferiu ficar com a fileira de antepassados. É muito forte.


Agora, se quiser se distanciar, terá que se distanciar, e arcar com isso. A má consciência é um caminho necessário para se ir além.



(Trecho de uma aula com Sami Storch)