Imagine uma pessoa que teve um relacionamento, e dentro desse relacionamento teve filhos.
Depois teve outro relacionamento, no qual teve outros filhos.
Os filhos do segundo relacionamento não estão em situação de igualdade com os do primeiro relacionamento.
Eles se beneficiaram das dificuldades, das dores e das tragédias da primeira família.
Isso não significa que eles têm culpa. Significa, simplesmente, que colheram benefícios do término do relacionamento anterior.
Digamos que um homem tenha se separado da primeira mulher, deixando filhos, saindo de casa, constituindo uma nova família, e convivendo com os filhos desta nova família.
Os filhos da nova família conviveram com o pai, que ficou ausente para os filhos do primeiro relacionamento.
Eles só tiveram esse pai presente, só puderam conviver com uma família estruturada, porque seu pai separou-se da primeira mulher. Os filhos do primeiro relacionamento, por sua vez, tiveram que crescer sem o pai dentro de casa.
Houve um preço. Alguém pagou um preço alto para que os filhos do segundo relacionamento tivessem uma família mais bem estruturada.
Mais ainda: para que pudessem viver. Afinal, eles só existem graças ao término do primeiro relacionamento, e às dificuldades que essa mulher e esses filhos passaram.
Se os filhos do segundo relacionamento consideram-se iguais, ou até melhores, do que os do primeiro relacionamento, isso provavelmente ocasionará problemas no momento do inventário.
Por que?
Porque não há um reconhecimento de cada um em seu lugar. Quem veio depois está querendo ser maior do que quem veio primeiro.
Mas a verdade é que quem veio depois não tem nem ideia da dor que os irmãos, filhos do relacionamento anterior do pai, passaram.
De maneira geral, os mais novos nunca saberão o tamanho da dor que os mais velhos enfrentaram ou ainda enfrentam. Quem veio depois não sabe o que aconteceu primeiro. Os filhos não têm noção do que aconteceu entre os pais; não conhecem todos os segredos, todas as nuances, tudo aquilo que ficou oculto.
No entanto, muitas vezes, os filhos do segundo relacionamento sentem-se mais merecedores, porque, por exemplo, ajudavam o pai no trabalho, e por isso consideram-se mais importantes.
Mas todas as oportunidades que tiveram em suas vidas, incluindo a de nascer, foram graças ao fato de o pai ter se separado da primeira família.
Segundo a lei da hierarquia, observada por Bert Hellinger, os filhos do primeiro relacionamento, que vieram primeiro, são maiores, já que suportaram uma dor maior do que a dos mais novos.
E o reconhecimento disso, pelos irmãos mais novos, é um movimento que coloca as coisas em ordem, que traz paz para todo o sistema familiar.
(Texto extraído do curso online Direito Sistêmico e as Constelações Familiares na resolução de conflitos)