"Otimismo é esperar pelo melhor. Confiança é saber lidar com o pior." Roberto Simonsen

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

A chave da solução de um conflito de inventário

 Imagine uma pessoa que teve um relacionamento, e dentro desse relacionamento teve filhos.
Depois teve outro relacionamento, no qual teve outros filhos.

Os filhos do segundo relacionamento não estão em situação de igualdade com os do primeiro relacionamento.

Eles se beneficiaram das dificuldades, das dores e das tragédias da primeira família.

Isso não significa que eles têm culpa. Significa, simplesmente, que colheram benefícios do término do relacionamento anterior.

Digamos que um homem tenha se separado da primeira mulher, deixando filhos, saindo de casa, constituindo uma nova família, e convivendo com os filhos desta nova família.

Os filhos da nova família conviveram com o pai, que ficou ausente para os filhos do primeiro relacionamento.

Eles só tiveram esse pai presente, só puderam conviver com uma família estruturada, porque seu pai separou-se da primeira mulher. Os filhos do primeiro relacionamento, por sua vez, tiveram que crescer sem o pai dentro de casa.

Houve um preço. Alguém pagou um preço alto para que os filhos do segundo relacionamento tivessem uma família mais bem estruturada.

Mais ainda: para que pudessem viver. Afinal, eles só existem graças ao término do primeiro relacionamento, e às dificuldades que essa mulher e esses filhos passaram.

Se os filhos do segundo relacionamento consideram-se iguais, ou até melhores, do que os do primeiro relacionamento, isso provavelmente ocasionará problemas no momento do inventário.

Por que?

Porque não há um reconhecimento de cada um em seu lugar. Quem veio depois está querendo ser maior do que quem veio primeiro.

Mas a verdade é que quem veio depois não tem nem ideia da dor que os irmãos, filhos do relacionamento anterior do pai, passaram.

De maneira geral, os mais novos nunca saberão o tamanho da dor que os mais velhos enfrentaram ou ainda enfrentam. Quem veio depois não sabe o que aconteceu primeiro. Os filhos não têm noção do que aconteceu entre os pais; não conhecem todos os segredos, todas as nuances, tudo aquilo que ficou oculto.

No entanto, muitas vezes, os filhos do segundo relacionamento sentem-se mais merecedores, porque, por exemplo, ajudavam o pai no trabalho, e por isso consideram-se mais importantes.
Mas todas as oportunidades que tiveram em suas vidas, incluindo a de nascer, foram graças ao fato de o pai ter se separado da primeira família.

Segundo a lei da hierarquia, observada por Bert Hellinger, os filhos do primeiro relacionamento, que vieram primeiro, são maiores, já que suportaram uma dor maior do que a dos mais novos.

E o reconhecimento disso, pelos irmãos mais novos, é um movimento que coloca as coisas em ordem, que traz paz para todo o sistema familiar.

(Texto extraído do curso online Direito Sistêmico e as Constelações Familiares na resolução de conflitos)

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

As Constelações expõem o fenômeno da própria vida

As Constelações expõem o fenômeno que se apresenta na vida, mas que, no dia a dia, nem sempre fica tão evidente. É uma sabedoria, um conhecimento que está no mundo, que pode ser descoberto pelas pessoas. Está à disposição de quem tem olhos para ver. E Bert Hellinger o percebeu de forma muito clara.

A partir disso, ele sintetizou as leis dos relacionamentos em três leis básicas, que explicam o que promove o equilíbrio em qualquer relacionamento, e também o que causa conflitos, desequilíbrios e transtornos.

Quando se coloca um representante no lugar de uma pessoa, ele mostra alguma dinâmica oculta que nem a própria pessoa estava vendo.

Por exemplo, uma pessoa disse: "Eu vivo brigando com essa pessoa, pois a gente não se suporta. Eu tenho raiva e não consigo me separar. Para piorar, o processo de divórcio não termina." Porém, quando colocamos os representantes do casal, eles ficaram lado a lado, bem juntinhos, se olhando com amor.

Por que o conflito não se resolvia? Porque eles não queriam se separar. Afinal, na verdade, ainda se amavam, mas não podiam admitir. Certamente existiam mágoas, rancores, e tratava-se de um amor desequilibrado, como tantos outros. Mas a Constelação revelou o que estava por trás daquele conflito.

A Constelação revela que por trás da raiva e da violência existe uma dor profunda. Muitas vezes, por um amor que alguém não conseguiu realizar em relação a uma pessoa da sua família, em relação ao pai, à mãe, ao avô, ao tio, ao irmão, e não sabe lidar com essa dor, então a encobre, reproduzindo o padrão dessa pessoa que foi excluída, que foi julgada, e que ela mesma rejeita.

Quando colocamos uma pessoa violenta numa Constelação, às vezes ela se mostra como uma pessoa triste, mostra um profundo vínculo com alguém que morreu. Então essa pessoa chora.

Com isso, aquele com quem essa pessoa está em conflito, que estava querendo vingança, que vinha condenando-a, achando um absurdo o que ela fez, de repente tem acesso, através da Constelação, a uma realidade profunda que não estava sendo vista.

As partes, assim, atenuam seus julgamentos, e se reconhecem como seres humanos, com as suas fragilidades.


(Texto extraído do curso online Direito Sistêmico e as Constelações Familiares na resolução de conflitos, com Sami Storch)