Algumas pessoas acreditam que a consciência é a voz de Deus em nós. Acreditam que a pessoa que tem uma boa consciência é porque já está de acordo com os mandamentos de Deus.
Ou que tem a ver com o bem e o mal: a pessoa faz algum mal, e então se sente com má consciência, ela faz algo bom e se sente com boa consciência.
E então Bert Hellinger percebeu que não é assim: que o sentimento de boa e de má consciência é uma percepção da pessoa em relação ao grupo ao qual ela pertence. A consciência é uma reação, de acordo com o vínculo que cada um tem, principalmente com a família.
A família é o vínculo mais forte, porque é de onde recebemos a vida. A vida vem por meio da família, então o primeiro vínculo, o vínculo mais profundo que todo filho tem, é em relação aos seus pais, em relação à sua família.
O que acontece, então?
Existe um sentimento primitivo de pertencimento, uma necessidade primitiva. As pessoas precisam se sentir pertencentes a algo, em primeiro lugar à família. E depois a pessoa precisa se sentir pertencente a outros grupos, a turmas, a uma religião, a um time de futebol, a um partido político, a uma nacionalidade, a uma instituição à qual ela se filia, a um grupo profissional.
Nós nos identificamos com muitos grupos ao longo da vida. E dá uma sensação de conforto, uma sensação de segurança, cada vez que nos sentimos unidos, conectados.
Aumenta a conexão, aumenta o vínculo, quando nós estamos de acordo com esse grupo. É aí que nasce a boa e a má consciência.
A boa consciência é uma consciência tranquila, porque nos sentimos pertencentes, nos sentimos acolhidos, dá uma sensação de segurança, de saber que não estamos sós, que estamos juntos.
O problema é que essa boa consciência age também no sofrimento. Ela age nas tragédias, em destinos que a pessoa, às vezes, passa a vida sofrendo, para se sentir pertencente. Porque cada vez que ela coloca em risco esse pertencimento, ela se sente culpada.
Essa culpa equivale à má consciência, é uma sensação de má consciência. Ela se sente insegura, diz “E agora? Estou só!”, porque sente que está se distanciando de uma tradição, de um padrão, de uma crença, de uma cultura.
E aí o que acontece? Nesse afastamento, ela se sente sozinha, se sente ameaçada, sente medo. E a boa consciência a chama para retornar ao seu grupo, para pertencer, para ser mais uma.
E é assim que os filhos tendem a repetir as dificuldades e os destinos trágicos dos seus pais.
(Trecho extraído do seminário online A boa e a má consciência, com Sami Storch.)