"Otimismo é esperar pelo melhor. Confiança é saber lidar com o pior." Roberto Simonsen

sexta-feira, 14 de março de 2025

Por que é tão difícil resolver os conflitos que chegam no judiciário?

 Por que é tão difícil resolver os conflitos que chegam no judiciário?


É porque muitas vezes existem dinâmicas ocultas por trás dos relacionamentos, que geram um desequilíbrio que não é visível nos automóveis.


Se a questão fosse apenas o que fosse visível nos automóveis seria muito fácil. Precisaríamos apenas usar um pouco de aritmética. Seria fácil de resolver.


Mas existem dinâmicas ocultas, relacionadas às leis sistêmicas que atuam no inconsciente das pessoas, a fatos do passado, que às vezes as próprias pessoas não conhecem.


Por exemplo, dinâmicas decorrentes de um aborto. Ou uma renúncia que alguém teve que fazer, e que não constou no contrato. Às vezes há alguma bem, alguma renúncia ou alguma promessa que não é juridicamente tutelada.


Ou há algo que pesa na vida de alguém, e que não é tratado pela lei material.


Em um casamento, por exemplo…


A mulher não tem filhos, mas está apaixonada por um homem que tem filhos. E o homem diz que não quer ter mais filhos.


Existe uma mensagem implícita quando ele diz isso. Pode ser verdade que ele não tem condições financeiras, ou tem outros projetos de vida. Mas pode haver uma mensagem como “eu não quero aprofundar tanto assim o vínculo com você… filho é um vínculo muito profundo, eu prefiro que seja mais leve… fica muito mais fácil se separar se não tivermos filhos”.


Às vezes há uma mensagem secreta, da qual talvez nem ele tenha consciência.


Mas a mulher está apaixonada, e diz “tá bom, eu quero viver com você, eu abro mão, eu renuncio ao meu desejo de ter filhos”.


Na verdade, ela quer ter filhos. Na verdade, ela sempre sonhou em ter filhos. Mas renúncia ao seu desejo, e se casa, e ajuda a cuidar dos filhos do homem.


Talvez ela ocupe o lugar das mães desses filhos. Talvez ela não tenha claro, em seu coração, que para esses filhos a mãe biológica veio primeiro, e tem um lugar de precedência no coração deles.


Essa segunda mulher abriu mão de ter filhos para se casar com esse homem. Ela fez uma renúncia imensa, de um tamanho que ela não imaginava. Porque de repente ela passou da idade, e já não pode mais ter filhos. Renunciou a isso, e cuidou dos filhos dele.


E aí o casamento não dá certo, e eles resolvem se separar.


Que conta aritmética traz satisfação para uma mulher que sabe, em sua alma, que abriu a mão da própria maternidade, que é algo tão essencial?


Ela nunca conseguirá manifestar essa cobrança nos autos, e nunca conseguirá reparar a dor da mulher por meio de partilha de bens ou por meio de pensão.


Como resolver uma situação como essa?


A mulher quer porque quer discutir, quer seguir cobrando dele, e não abre a mão do processo. Mas não há mais o que discutir. E ela sempre quer mais… e o acordo não sai, porque não é disso que se trata. Trata-se de uma outra dinâmica!


Não existe solução jurídica para essa situação! Um fato como esse é invisível aos automóveis!


( Trecho da palestra " Direito Sistêmico: limites e possibilidades no sistema judicial ", concedido no TRT de Goiás)


sexta-feira, 7 de março de 2025

Para seguir adiante, dê um bom lugar ao relacionamento anterior

 Muitas vezes, o casamento termina porque as pessoas não estavam inteiras. Não estavam prontas para reconhecer a própria inteireza e a inteireza do outro.


As pessoas se desequilibram na relação, esperam muito do outro, não enxergam quem é a outra pessoa realmente. Esperam que ela seja outra, e muitas vezes também fazem de conta que são outra pessoa. Não reconhecem suas próprias fragilidades, suas próprias carências, e esperam que o outro supra isso.


A separação é uma grande oportunidade de aprendizado para quem não conseguiu evitá-la, mas que pode aproveitar o que ela tem a ensinar para poder recomeçar, e ter um relacionamento mais saudável.


É importante oferecer um bom lugar na própria vida para o(a) ex-parceiro(a), essa pessoa tão importante, o pai dos próprios filhos, a mãe dos próprios filhos. São pessoas fundamentais. Trata-se de um relacionamento dos mais importantes para que nos conheçamos melhor.


Seguir adiante sem dar o passo de ter um bom relacionamento com o ex-cônjuge pode trazer consequências graves para a vida dos adultos e dos filhos.


(Trecho extraído da Jornada de Constelações na Resolução de Conflitos, com Sami Storch)